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O café na ilha

O café na ilha

A história do cafezeiro do Ibo esta envolta em muitas lendas e mistérios.

São escassas as referências a planta do café, no que diz respeito a introdução da mesma na ilha/vila do Ibo e, a que parece mais concisa presume-se que seja a de João de Loureiro na sua obra Flora Cochinchinensis de 1788 [1] .

A nível do país, foram identificadas por Chevalier na sua última revisão sistemáticado café, 4 espécies de café espontâneo do género Coffea: Coffea zanguebariae Lour., Coffea racemosa Lour., Coffea lugustroides S. Moore e Coffea salvatrix Swyn e Phil. E ainda que tenham sido identificadas 4 espécies de café espontâneo no país, Charrier and Berthaud [1]. indicam que espécie Coffea racemosa Lour. é a mais predominante e a mais difundida em Moçambique, onde estão incluídos os conhecidos “café de Inhambane” e o “café do Ibo”, entre outros sinónimos. [2].

Em 1955, numa publicação do Jornal Notícias da então Lourenço Marques, Bettencourt depois de percorridas áreas de diferentes ecologias que se enquadram dentro da existência das espécies de café em Moçambique, concluiu que este poderia se tornar um importante país cafeeiro, de norte a sul, excepto nas zonas áridas, em solos pouco profundos e muito compactos de drenagem deficiente das baixas, dependendo da escolha da espécie a cultivar. [3].

O C. racemosa, que maiores áreas encontra em Moçambique para se expandir, necessita de terras arenosas e regiões de areias de longo período de seca, abrangendo todo o litoral, onde poderá esta espécie formar plantações lucrativas [4].

Contudo, segundo Bento, “a introdução do cafezeiro nas Ilhas deveu-se aos Árabes e Mouros da Costa, que se supõe serem os primeiros povoadores, que o teriam difundido e outros estabelecimentos seus”. Daí a origem da espécie. Neste sentido, no Ibo, desde a Provisão real de 2/3/1800, com o intuito de incentivar a produção de café, determinava-se na ilha que anualmente fossem remetidos cerca de 150 kg do melhor café para a capital da colónia, obrigando-se, portanto, a que cada produtor ou agricultor, plantasse tantas árvores proporcionalmente ao terreno que possuir, para tornar a actividade num ramo comercial, muito útil aos moradores. Desde 1803 a 1810, foram enviadas remessas de café ao Palácio Real de Queluz e, embora se tenham plantado machambas de cafezeiros, tanto na parte insular como na continental do território, em 1810 os resultados ainda não eram visíveis [5].

Em meados do século XIX, o governador das ilhas, Jerónimo Romero, referiu que eram escassas as colheitas de café na ilha do Ibo, pois os demais moradores não davam importância e nem se dedicavam a tão útil cultura. Assim, o cafezeiro produzia espontaneamente, como qualquer outra planta do mato e a sua apanha era dificultada por eles se acharem entre a mata cercada de árvores e pelo receio dos animais ferozes existentes [6].

Medalha de Ouro

O café do Ibo (Coffea racemosa Lour.) foi outrora, em 1906, distinguido com Diploma de Medalha de Ouro em Lisboa, devido às suas características únicas em termos de sabor e aroma. [3] Contudo, é actualmente pouco conhecido e quase nenhum valor se dá a esta cultura.


[1] LOUREIRO, J. DE (1788)
[2] Laíns e Silva (1954)
[3] Bettencourt (1955)
[4] Bettencourt (1955)
[5] Bento (1993)
[6] Bento (2007)
[7] Vasconcelos (1906)
[IMAGEM A DIREITA] Encontrada aqui: O Afamado Café do Ibo Por Carlos Lopes Bento